segunda-feira, 11 de abril de 2011

Proposta trabalho 2 - Álvaro de Campos

Álvaro de Campos


Álvaro de Campos é, entre os heterónimos de Fernando Pessoa, o que mais se assemelha ao Ortónimo, pelas suas temáticas complexas. A sua evolução é definida através de três fases, conhecidas como as três faces de Álvaro de Campos.

Os versos que trabalhámos tipograficamente pertencem ao seu poema ‘Ode Triunfal’ que se enquadra na fase futurista. Para por fim ao seu desencanto pela vida, o heterónimo começa a aprecia-la com os sentidos, querendo sentir tudo de um modo exagerado e compulsivo. A sua forte adesão ao Sensacionismo leva-o a atitudes sadomasoquistas, devido à sua atracção febril pelas máquinas. O Futurismo é aqui também tematizado, uma vez que se trata também do exacerbamento da força, da energia, da civilização mecânica e do aniquilamento do passado. A importância da sensação é mostrada nos seus poemas através duma linguagem torrencial e exuberante, com marcas de oralidade, que visam expressar o mundo do progresso técnico. É na máquina irracional e exterior, que se projectam os sonhos e desejos do poeta. Campos busca exprimir a energia ou a força que se manifesta na vida.

Tendo em conta as características temáticas de Álvaro de Campos, procurámos representar o significado dos versos Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r eterno/ forte espasmo retido dos maquinismos em fúria’ através da arte de criação na composição, a tipografia.

O primeiro verso começa com a letra ‘Ó’ que antecede ‘rodas’ e ‘engrenagens’ e que é realçado com o volume preto da letra, representando assim o arranque forte dos maquinismos. O ‘rrr (eterno)’ foi escrito à volta da palavra ‘eterno’ simbolizando assim o infinito do som, remetendo aqui para a obsessão de Campos em sentir tudo de uma forma exagerada e doentia. A palavra ‘engrenagens’ é incluída no ‘t’ de eterno, uma vez que são as engrenagens que, ao trabalharem, produzem o som que é aparentemente infinito. Uma vez que ‘espasmos’ remete para o desequilíbrio, a palavra apresenta-se estremecida. O adjectivo ‘fortes’, que antecede os espasmos e visa reforça-los aparece então carregada e em dimensões maiores, salientando assim a violência causada pelos maquinismos. As letras mostram graficamente o processo sonoro e movimentado das máquinas a trabalhar, assim como o exacerbamento da energia e da força. A palavra ‘retido’ está como que presa entre duas paredes e mesmo as letras mostram um certo enclausuramento visível na sua dimensão. Uma vez que ‘os maquinismos’ estão em fúria é mostrada uma explosão de letras no lado esquerdo da composição, como que a simbolizar a confusão e a explosão de movimento e trabalho das máquinas. ‘os maquinismos’ estão como a ser sugados pela explosão e a palavra ‘fúria’ está desenhada com um efeito carregado e ao mesmo tempo ponto e agudo, remetendo para a dor, a pressão, a força. O próprio autor do poema era como que ‘arrastado’ pelo comportamento das máquinas e o sentir tudo de todas as maneiras, de forma agressiva e exagerada, daí também os efeitos violentos da ‘fúria’.


A composição consiste assim numa mística de sensações carregadas que visam salientar a obsessão de Álvaro de Campos pelos maquinismo e retratar o barulho, o trabalhi e o movimento árduo das máquinas a trabalhar, sendo transmitidos sons fortes através da tipografia.



Mariana Cintra e Catarina Cruz






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